sábado, 27 de outubro de 2012

Dojo, um local sagrado


Dojo é o recinto adequado em que se pratica o Karate e qualquer outra Arte Marcial japonesa. Significa local de aprimoramento do ser humano na busca da unidade do corpo, da mente e do espírito. Herrigel, no seu livro A Arte cavalheiresca do arqueiro zen, o descreveu como “Lugar de Iluminação”. 
Neste ambiente, uma das paredes é considerada a parte nobre -o kamiza- destinada aos quadros do Mestre ou dos Mestres. E é voltado nesta direção, que no inicio e no término das aulas, sentados no modo japonês (seiza), nos inclinamos conjuntamente em atitude de reverência. 
A primeira saudação é realizada sob o comando da palavra shomeini-rei, todos se curvam como reconhecimento da importância e a grandeza dos mestres que através da sua dedicação tornou-se possível que o karate se mantivesse até os dias de hoje. Em seguida, os alunos dirigem a reverencia ao Sensei (professor), para isto é dito senseini-rei
Este procedimento faz parte da tradição marcial japonesa que preza muito a etiqueta.  Mestre Funakoshi afirmava que o Karate-Do inicia e termina com a saudação. Nesta afirmação está implícita a questão do respeito, da cortesia, da delicadeza, da lealdade, da ética, indispensáveis à boa formação do caráter do ser humano. 
A importância da saudação
Levando-se em conta o Dojo como um local sagrado, a saudação proporciona ao karateca um treinamento livre das distrações, e o mais importante, tendo a percepção e o domínio dos sentimentos e emoções que interferem no seu desenvolvimento como a preguiça, o desânimo, a inconstância, a impaciência e a arrogância. A saudação não pode ser feita destituída de uma consciência profunda do significado real, senão  torna-se algo mecânico, rígido, uma mera formalidade. 
Mas o mais importante, uma vez que a prática do Karate proporciona o aumento da autoconfiança, é que através da saudação, o indivíduo reforça o sentimento de respeito ao outro ser humano, contendo de forma consciente atos de violência, tão comum na sociedade dos tempos atuais.  
Vemos, então que a saudação interfere profundamente na psique do indivíduo. A maneira como a pessoa reverencia traz a informação de como é a sua personalidade: impaciente, agressiva, tímida, agitada, serena, desleixada, responsável etc.
A forma e as finalidades das saudações
saudação, além das características citadas, deve ser realizada a partir de uma sincronização entre a respiração e o gesto. Assim, recomenda-se no instante anterior ao da saudação, inspirar. E o tronco ao se curvar para frente, expirar. No momento em que o tronco retorna à vertical inspira-se novamente, podendo a expiração seguinte servir para a execução imediata de uma técnica, seja de ataque ou de defesa. A descrição respiratória é válida tanto para a saudação em pé ou sentada.
Existem varias formas e finalidades na saudação. Existe aquela em que saudamos a nós mesmos, no sentido de conectarmos mentalmente com nós mesmos, despertando o nosso mestre interior. Outra, quando adentramos ao Dojo, reconhecendo o espaço sagrado do lugar.

O que é karatê


Trata-se de uma Arte Marcial milenar, originada na Ilha de Okinawa e, posteriormente, desenvolvida no Japão. Tode era o seu nome no dialeto okinawano. Inicialmente era um sistema de luta em que as mãos e os pés funcionavam como armas letais. Adestrar o corpo para a luta surgiu devido à imposição dos reis daquela Ilha, como forma de controle, de não permitirem que os habitantes utilizassem armas.
Fora estas particularidades, o Tode recebeu uma grande influência do Kung Fu chinês, uma vez que Okinawa era um reino independente e mantinha estreitas relações comerciais e culturais com a China.
No Século XVI, a ilha de Okinawa é invadida pelo clã feudal de Satsuma , perdendo a sua independência. Porém, somente no Século XX, na década de 20, essa Arte Marcial foi conhecida pelo povo japonês.
Coube a Gishin Funakoshi, professor okinawano de filosofia chinesa, realizar, a convite do Ministério da Educação Japonês, a primeira demonstração daquela Arte Marcial no País do Sol Nascente.
Já instalado em solo japonês, Mestre Funakoshi, substitui o nome Tode do dialeto okinawano para Karate-Do, em japonês, sendo Kara (vazio)-te (mãos) e Do (caminho). Esse nome foi inspirado no poema Zen: "Cores, isto é vazio. Vazio, isto é, cores". As cores significam a matéria, o vazio, o nada. Pode-se dizer que são os aspectos onda e partícula da mecânica quântica.
A filosofia Zen fundamenta a sua prática na meditação. Segundo seus conceitos, a realidade das coisas somente é percebida quando nos isentamos do ato racional de julgar e interpretar a situação, os objetos e as pessoas com as quais nos relacionamos. O caminho para isso é a criação de um estado mental de vacuidade, do vazio da mente.
Mestre Funakoshi, guiado pela sua visão de futuro, acreditava que o Karate-Do poderia ser um meio de integrar as pessoas na co-criação de um mundo mais pacifico, tanto é que cunhou a frase em japonês Karate-ni sente nachi ( no Karate não existem golpes de agressão). Atualmente, pode-se dizer sem exageros, que o Karate encontra-se em todos os países do planeta. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

10 Anos de karatê-Do na minha vida

Sensei: Cristiano 
Ontem foi um grande dia para mim, apesar de ser o dia internacional do karatê o dia 25 de outubro também celebra o meu encontro com essa Arte Marcial suprema.  A gratidão desbloqueia a abundância da vida sou ETERNAMENTE GRATO ao karatê e ao que ele me ofereceu durante a minha vida toda..., a gratidão é um gesto de troca de retribuição, de lembrança, de amizades de irmãos de kimono,... Ela torna o que temos em suficiente, em necessário em engrandecimento, e mais... Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade, ruindade em gêneros
idade, mostra a essência da humildade, mostra todos os dias para mim , que a gratidão é um tesouro que damos com o coração por aquilo que sentimos profundamente.... Ela pode transformar um dia desacreditado em um dia de esperança..., uma casa em um lar, um estranho em um amigo... A gratidão dá sentido ao nosso passado, o passado em futuro e traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã... a maior gratidão do ser humano é sempre carregar ela no peito e no coração, carrego a minha ate ter minha saúde comigo, sou fiel ao meu foco e PRINCIPALMENTE tenho FOCO a ele...

" Na vida não vou dizer que é fácil... e que nunca deu vontade de desistir, mais na vida vale muito mais a pena ... CONTINUAR..."
A percepção é forte e a visão é fraca. Em estratégia, é importante ver o que está distante como se estivesse próximo e ter uma visão distanciada do que está próximo.
Myamoto
Oss.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dia Mundial do Karatê-Do

A pedido da Okinawa Karatê Mundial (OKW), a Assembléia da cidade de Okinawa declarou o dia 25 de Outubro como o “Dia Mundial do Karate”. Decidiu-se por esta data, com a presença do governador de Naha, Keichi Inamine e o Secretário da Assembléia de Okinawa, Seizen Hokama. 
 Foi estabelecido como dia mundial do Karatê para todos os estilos do mundo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Resumo da historia do Karatê



Karate ou karate-do é uma forma de budo (caminho do guerreiro). Arte marcial japonesa que tem a sua origem em Okinawa e foi introduzida nas principais ilhas do arquipélago japonês em 1922. O Karate enfatiza as técnicas de ataque (i.e. socos e pontapés) ao invés das técnicas de luta corpo-a-corpo.
A prática do Karate pode ser dividida em três partes principais: kihon, kumite e kata.
Kihon é o estudo dos movimentos básicos.
Kumite significa luta e pode ser executada de forma definida ou de forma livre (randori).
Kata significa forma e é uma espécie de luta contra um inimigo imaginário expressa em sequências fixas de movimentos.
História
Originalmente a palavra karate era escrita com os ideogramas (Tang e mão) referindo-se a dinastia chinesa Tang ou, por extensão, mão chinesa reflectindo a influência chinesa neste estilo de luta. Actualmente o significado mais comum destes ideogramas é o de mão vazia. Karate-do significa portanto caminho da mão vazia. O karate é provavelmente uma mistura de uma arte de luta chinesa levada até Okinawa por mercadores e marinheiros da província de Fujian com uma arte própria de Okinawa. Os nativos de Okinawa chamam este estilo de te, mão. Os estilos de karate de Okinawa mais antigos são o Shuri-te, Naha-te e Tomari-te, assim chamados de acordo com os nomes das três cidades em que eles foram criados.
Em 1820 Sokon Matsumura fundiu os três estilos e deu o nome de shaolin (em chinês) ou shorin (em japonês), que são as diferentes pronúncias dos ideogramas (pequeno e bosque). Entretanto os próprios estudantes de Matsumura criaram novos estilos adicionando ou subtraindo técnicas ao estilo original. Gichin Funakoshi, um estudante de um dos discípulos de Matsumura, chamado Anko Itosu, foi a pessoa que introduziu e popularizou o Karate nas ilhas principais do arquipélago japonês.
O karate de Funakoshi originou-se da versão de Itosu do estilo shorin-ryu de Matsumura que é comumente chamado de shorei-ryu. Posteriormente o estilo de Funakoshi foi chamado por outros de shotokan. Funakoshi foi o responsável pela mudança na forma de escrever o nome desta arte marcial. Sendo esta a forma que encontrou para que o karate fosse aceito pela organização de budo Dai Nippon Butokai, já que numa época de ascensão do nacionalismo japonês era importante não fazer com que o Karate parecesse uma arte de origem estrangeira, como a maneira antiga de escrever implicava.
O karate foi popularizado no Japão e introduzido nas escolas secundárias antes da Segunda Guerra Mundial.
Como muitas das artes marciais praticadas no Japão, o Karate fez a sua transição para o karate-do no início do século XX. O do em karate-do significa caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito de tao. Como foi adoptado na moderna cultura japonesa, o Karate está imbuído de certos elementos do zen budismo, sendo que a prática do karate algumas vezes é chamada de “zen em movimento”. As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de meditação. Também a repetição de movimentos, como executado no kata, é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o autocontrole, a atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas.
A modernização e sistematização do Karate no Japão também incluiu a adopção do uniforme branco (dogi ou keikogi) e de faixas coloridas indicadoras da graduação alcançada pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano, fundador do judo. Fotos de antigos praticantes de Karate de Okinawa mostram os mestres em roupas do dia-a-dia.
* A Origem do Tigre Shotokan
* Estilos do Karaté
* O Karaté Como Desporto

O karatê e sua Origem

DA ÍNDIA PARA A CHINA
A necessidade de defender-se para sobreviver fez com que o homem desenvolvesse diversos gêneros de luta, em diferentes épocas e regiões do mundo. No entanto, um momento e uma região, em especial, marcaram historicamente as artes marciais.
Em meados do século V, Bodhidarma, monge indiano, caminhou em direçãoà China para fundar um mos-teiro budista. Seguidor do budismo de contemplação, ele desenvolveu técnicas sem armas chamadas Shao-lin-su-kempo. O objetivo era a manutenção da saúde e a auto defesa onde, através de exercícios penosos, pretendiam o fortalecimento do corpo para dar morada a paz de espírito e a verdade religiosa.
Bodhidarma orientava seus discípulos para que através da observação das características de luta dos animais, desenvolvessem técnicas que mais se harmonizassem com seu interior, criando assim, cada um, estilo próprio.
Tempos após a morte do monge, ocorreu a invasão mongol, fragmentando a China em vários reinos. O mosteiro foi incendiado. Os monges partiram em várias direções, transmitindo conhecimentos e difundindo estilos.
A invasão mongol e posterior retomada do poder pela dinastia Ming (China), estimularam o aparecimento das técnicas de luta. Neste momento, a arte de combate militar esteve sobreposta à arte espiritual.
A arte marcial evolui segundo as características e conhecimentos de seus mestres e das condições locais e culturais da população. Foi enriquecida pela soma de elementos reti-rados das lutas chinesas, mongóis e do Shao-lin-su-kempo.

 EM OKINAWA
0 intercâmbio comercial e cultural entre a China e as ilhas vizinhas, possibilitou, especialmente em Okinawa, que na época pertencia à China, a introdução das técnicas de lutas chinesas. Ao final da dinastia Ming, Okinawa passou ao domínio japonês que para evitar a reação do povo nativo, proibiu uso de armas. Sob pressão militar, a população obteve nos utensílios de uso cotidiano e no próprio corpo, meios de defesa; cadeiras, cordas, mãos, joelhos e etc. se transformam em armas (Nakayama, 1987).
Os treinos eram secretos e os alunos escolhidos. Cada mestre desenvolvia técnicas segundo suas características físicas e mentais, as características dos alunos e suas zonas de influência.
O isolamento japonês no período medieval, nos séculos IX a XIX, contribuiu para que o povo nativo criasse um estilo próprio de luta, diferente de sua origem chinesa. A perseguição exercida pela classe dominante japonesa era tal que Okinawa (1885) chega a compará-la a perseguição sofrida pela capoeira no Brasil imperial.
No inicio do século XIX, com a ruptura do isola-mento, surgiram as armas de fogo, inibindo a utilização das lutas de corpo a corpo que quase desapareceram como arte guerreira.
O século XX trouxe consigo o ressurgir das artes marciais, deslocando o enfoque de luta para a sobrevivência, para educação física, com fundamentação espiritual. Escolas como Okinawa-te, Naha-te e Shuri-te, desenvolveram e divulgaram a arte que mais tarde passou a ser chamada Karate-do e revelaram mestres como Ankoh Itosu, Kanryu Higashionna, e posteriormente Funakoshi, Mabuni, Kyan, Motobu,Yahiko, Ogusoku e Miyagi.
Em 1905, 0 Karate foi introduzido nas escolas de Okinawa como educação física. 0 professor Itosu sistematizou Kata simplificados Heian ou Pinan (Paz e Harmonia), visando iniciação ao aprendizado.

 NO JAPÃO
Ensinado em segredo durante tanto tempo, em 1916 um karateca fez uma apresentação pública fora de Okinawa. Funakoshi foi convidado para fazer urna demonstração no Botoku-den, em Kioto, centro de artes mar-ciais. Três anos mais tarde, o Ministério de Educação o convidou para organizar uma demonstração em Tóquio. 0 sucesso foi tamanho, que Funakoshi foi convidado a permanecer, para dar palestras e ensinar o Karate.
Funakoshi viajou por todo o Japão. Ele foi convidado a lecionar nas universidades, onde o Karate passou a ser submetido a pesquisas científicas, tendo como conseqüências o aprimorando das técnicas e a criação de métodos de treinamentos sistemáticos (Silvares, 1987).
Considerado o pai do Karate-do moderno, Funakoshi modificou o karate literal e filosoficamente de "Mãos Chinesas" para "Mãos Vazias", mãos de liberdade, em queKARA e TE passaram a ter a conotação de defender-se desarmado e ter a mente livre do egoísmo e da maldade, adicionados à palavra DO, representando a busca de um caminho ou disciplina a ser seguida por toda a vida, na construção da personalidade (Nakayama, 1987; Silvares, 1987).
Após estudar em diferentes escolas, Funakoshi criou o estilo Shotokan, fundamentando-o nos princípios filosóficos do Budo e do Zen-budismo.
Essa fusão visava facilitar a evolução do espírito e do corpo conjuntamente, permitindo o desenvolvimento da autoconfiança, auto disciplina, auto controle, auto-realização, para formar o indivíduo humilde e cortês nos relacionamentos sociais, porém corajoso e determinado nas situações de injustiça. Capaz de enfrentar milhares de adversários se for preciso.
Seguindo o sucesso de Funakoshi, outros mestres de Okinawa partiram da ilha para divulgar suas técnicas. Em 1930, Mabuni partiu para Kioto, ensinando Shito-ryu. Em 1933, Motobu fez demonstrações em Osaka. No mesmo ano Miyagi fez demonstrações de Goju-ryu por todo Japão, seguindo em 1934 para o Hawai.
Segundo Okinawa (1885), a fusão do Karate com a concepção japonesa de arte marcial, deu origem a quatro estilos principais conhecidos hoje: SHOTOKAN(Funakoshi), SHITO-RYU (Mabuni), GOJU-RYU (Miyagi) e WADO-RYU (Otsuka).

 NO MUNDO
Embora Funakoshi nunca tivesse se afastado dos valores nos quais acreditava e vivia, as necessidades da guerra fizeram com que alguns mestres que ensinavam oKarate esquecessem a fundamentação espiritual.
No período da segunda guerra Mundial, os solda-dos e a população japonesa, eram treinados por mestres de Karate para resistirem ao ataque aliado. Tal fato determinou a proliferação de vários estilos, os mais diversos.
A incrível capacidade dos pequenos japoneses defenderem-se sem armas, despertou o interesse dos militares ocidentais. Após a guerra a emigração dos japoneses e o interesse das tropas de ocupação em adquirirem as técnicas, foram os responsáveis pelo inicio da difusão do Karate pelo mundo.
Podemos dizer que, o Karate é o resultado das observações feitas pelo homem da luta dos animais, que por sua inteligência, adaptou as características mais marcantes às suas possibilidades para melhor desempenho e também do acrisolamento, adaptação e aperfeiçoamento dos diferentes gêneros de luta. Cada geração, cada grupo cultural e o estudo científico pelos quais passou, participaram do processo de construção do Karate-do, transformando-o na arte que conhecemos hoje. E, pela nossa participação, continuarão evoluindo... Homem e Arte.

O grande estilo Shotokan



Shotokan (松涛館) é um dos estilos de caratê que surgiu dos ensinamentos ministrados pelo mestre Gichin Funakoshi e por seu filho,Yoshitaka Funakoshi. O repertório técnico do estilo foi baseado no do Shorin-ryu, mas, devido aos estudos empreendido pelo filho do mestre e sua influência, várias técnicas foram incorporadas e/ou modificadas, de modo a refletir o escopo almejado, que era o de valorizar mais o lado desportivo e físico como forma de promover o desenvolvimento pessoal.
Mestre Funakoshi em princípio não denominou o que ele ensinava de um estilo próprio, mas, antes de tudo, afirmava que ensinava caratê. Por outro lado, é certo que ele ensinava a arte marcial de acordo com sua visão e entendimento particulares sobre a mesma, mas isso seria explicado — também segundo o próprio mestre comentava — como uma consequência natural, pois vários professores ensinariam uma mesma disciplina de modos diferentes. Entretanto, alguns de seus alunos, como forma de o homenagear, manufaturaram uma placa com a inscriçãoShotokan, eis que Shoto era a alcunha que o mestre assinava suas obras, pelo que o dojô passou a ser conhecido como "casa de Shoto".
A despeito de outros mestres tentarem antes e contemporaneamente, foi o estilo de mestre Funakoshi que logrou êxito em vencer as barreiras culturais opostas a Oquinaua e difundir o caratê pelo resto do Japão, modificando nomes de técnicas e adaptando outras.

Formação

Em Oquinaua, o pequeno Gichin Funakoshi, por volta de 1880, no fim da infância e começo da adolescência, começou a praticar o caratê sob os auspícios do mestre Anko Asato — experto nos estilos shuri-te, de caratê, e Jigen-ryu, de kenjutsu — que era amigo de seu pai e tinha sido discípulo do grande mestre Bushi Matsumura.
O jovem Funakoshi, além de outros interesses muito caros, tinha especial apreço pelas artes marciais, sempre buscando novos ensinamentos. Assim, não depois de enveredar pelo caratê, passa a treinar com mestre Anko Itosu, com quem aprende as principais técnicas. Por outro lado, o aprendizado se deu com outros mestres de renome, com os quais, além de obter novos conhecimentos, também foi influente, como Kenwa MabuniKanryo HigaonnaChojun Miyagi.
O mestre Itosu empreendera sérios esforços para popularizar a arte marcial, não sendo muito bem-sucedido, pero o talvez mais signficativo seja mudança de nome da arte marcial desarmada de Oquinaua, de tode (mão sínica) para karate (mão vazia), o que significou naquela época, fim do século XIX, uma enorme mudança de paradigma o rompimento de uma barreira cultural. Funakoshi faz parte daqueles movimentos e despende novos esforços, no sentido de popularizar o caratê não só em sua terra natal mas no Japão todo. Calhou de, em 6 de março de 1921, o príncipe herdeiro Hirohito assistir a uma demonstração encabeçada por Gichin Funakoshi, no castelo de Shuri, ajudado por seus discípulos e pelo mestre Miyagi.
Depois, em 1922, surgiu o convite do mestre Jigoro Kano — criador do judô — para que fosse foi feita uma demonstração pública do caratê no instituto Kodokan. Como foi causa muito bom impressão, Gichin Funakoshi permaneceu em Tóquio por mais algum tempo, a ministrar aulas.
Por volta de 1935, tem início um movimento de alguns discípulos de Gichin Funakoshi, para ver um lugar próprio de treino de caratê e, em 1936, esse esforço dá resultados e é finalmente construído um dojô (道場 sítio de treino) em sua homenagem e o chamaram de Shotokan, ou "casa de Shoto", colocando uma placa com tal inscrição nos umbrais da entrada. Shoto era o pseudônimo com que Funakoshi assinava seus textos. Infelizmente, o prédio original foi destruído durante um bombardeio durante a II Guerra Mundial.
Gichin Funakoshi não acreditava na diversificação de estilos, e sim que todo o caratê deveria ser um só, mesmo com as diferenças naturais de ensino que variam entre os professores, posto que seu estilo ainda fosse tradicional e intimamente conectado ao estilo Shorin-ryu, com bases altas e golpes duros, tendo como base a filosofia do Budo, em cujo conteúdo há a consciência da busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para a harmonização do meio onde se está inserido, por intermédio de muita dedicação ao trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada. O praticante do caratê tradicional caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua personalidade.
Noutra mão, o estilo Shotokan era uma escola aberta a novos conceitos, desde que se mostrassem eficientes no escopo do mesmo, que era o aprimoramento moral e físico. Neste sentido, o desenvolvimento do estilo foi mui influenciado pelo o sensei Yoshitaka Funakoshi, filho do mestre, o qual dava o exemplo de afinco ao treinamento e carreou elementos de outras artes marciais japonesas, como os chutes laterais e o emprego de bases bem mais baixas do que aquelas exercitadas nas escolas derivadas dos estilo Shuri-te e Shorin-ryu. Tanto é assim que se pode identificar dois momentos distintos na evolução do Shotokan: a formação, feita por Gichin Funakoshi, e o amadurecimento, encabeçado por Gigo Funakoshi.
A meta imaginada quando do estabelecimento do dojo de Shoto era fazer da arte marcial um contributo para a formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração à geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal."
A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - Karate ni sente nashi (空手に先手なしNo caratê não existe atitude ofensiva) - define claramente o propósito anti violência.
Cisão
O verdadeiro valor do caratê não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais.
Quando se mudou para Tóquio, mestre Funakoshi admitiu como aluno o já experiente lutador de jiu-jitsu Hironori Otsuka, que ficou impressionado com as proezas que os caratecas faziam em suas demonstrações.
Eventualmente, Otsuka tornou-se instrutor de caratê shotokan, mas, em 1930, as divergências sobre a condução da arte tornaram-se mais acentuadas, pelo que os mestres chegaram ao consenso de seguirem caminhos diferentes. Dessa primeira cisão nasceu o estilo Wado-ryu, que incorpora técnicas de jiu-jitsu e gotende ao repertório do caratê, dando mais ênfase à pratica de kumite.
Após a morte de Gichin Funakoshi, outras dissensões tornaram-se evidentes. Alguns defendiam a participação em torneios e disputas e outros mantinham-se arraigados à proposição inicial de proibir quaisquer tipo de embate, devendo a arte ser desenvolvida principalmente por meio do treinamento reiterado de kata. Apartada, veio a lume a linhagem Shotokai.
A linhagem Shotokan foi assumida por Masatoshi Nakayama, e permaneceu única (isto é, sob a direção da JKA) até 1977, quando o mestre Hirokazu Kanazawa formou outra dissensão. Nesta última, ao longo do tempo pequenas diferenças foram-se acumulando, principalmente quanto à execução de katas. E, no início do século XXI, outros katas passaram ser treinados, o que acentua ainda mais o distanciamento.
Há ainda a linhagem Asai-ha, do mestre Tetsuhiko Asai, na qual pretende-se fazer resgate de alguns conceitos do caratê tradicional e, bem assim, foram criados e adaptados outros kata.

Características

O estilo Shotokan caracteriza-se por bases fortes e golpes no corpo inteiro. Os giros sobre o calcanhar em posição baixa dão fluidez ao deslocamento e todo movimento começa com uma defesa. Este é um estilo em que as posições têm o centro de gravidade muito baixo, e em que a técnica de um "simples" soco direto, dificil de ser dominada, quando a técnica é dominada o seu poder é incrível e quase sobre-humano.
Alguns tendem a classificá-lo como uma evolução do estlio shuri-te ou shorin-ryu. Entretanto, há divergências porque as bases do shotokan são precipuamente baixas, enquanto que em shuri-te são altas. Ademais, há golpes como mae geri e ushiro geri, que não são comuns nos estilos shorin, mas estão presentes no estilo de Funakoshi.
Neste estilo são levados a sério fatos como: a concentração e o estado de espírito, pois sem concentração e um estado de espírito leve porem determinado a técnica de pouco servirá, devendo estes dois atributos expandirem-se com a pratica e determinação.

Ética

O caratê moderno, ou kara-te-do, pretende ser muito mais do que uma disciplina de combate, mas, antes de tudo, o fito é proporcionar ao praticante um meio de evolução pessoal completa. Nesta cércea, os rituais, concebidos para serem praticados em todos os locais de treinamento, propõem uma série de atitudes e gestos que facilitam as relações entre eles deixando claro o desejo comum de obedecer a uma ordem válida para toda a comunidade e para cada um. A intenção do praticante é sempre a de estimular o progresso coletivo na arte sem perder, contudo, o desenvolvimento individual.
A prática do caratê está repleta de exercícios fortes e combativos, porém não se pode perder de vista o espírito de conciliação, buscando a vitória pela harmonia, pela paz, e olvidando as atitudes egoístas, pelo que tenta fazer incutir a ideia de que o grupo faz parte do indivíduo: um carateca deve treinar com seu companheiro com todo respeito e consideração, pois o considera como parte de si mesmo e sem o qual não há treinamento.
É, pois, de fundamental importância tratar o companheiro com cortesia e agradecimento, haja vista o colega proporcionar um aprendizado mais achegado à realidade. Deve-se ainda ao instrutor respeito e agradecimento pela transmissão dos conhecimentos e pela dedicação e esforço em ensinar segredos que foram por muitos séculos restritos a uma minoria privilegiada.
Tem-se como máxima que respeitar é se fazer respeitar. Conciliar e nunca confrontar é o princípio básico. Esquecer-se da palavra "eu" e substituí-la pela palavra "nós" é a essência do ensinamento. Outro ponto fundamental é que se treina caratê para a vida. Portanto, fica claro ao praticante e ao grupo que o fundamental não é vencer, não é derrubar, não é ser o mais forte, mas descobrir o potencial individual, o centro das ações e se, ele não for o centro, colocar-se em uma de suas órbitas, de acordo com suas reais condições.

Cumprimento

Uma demonstração tradicional de cortesia é o cumprimento, isto tanto é verdade que ele é realizado no início e no final da aula de frente para o Shomeni (forma de agradecimento àqueles que desenvolveram a arte). Ao cumprimentar, deve-se mirar para baixo e não na face do seu oponente, pois cruzar o olhar com alguém durante um cumprimento é sinal de falta de confiança. O cumprimento pode ser feito de duas maneiras distintas:
  • Ritsurei  cumprimento em pé, em posição natural ou shizentai;
  • Zarei , cumprimento em posição de seiza.
O cumprimento deve acontecer nas situações a seguir:
  1. Quando se entra ou sai do dojô;
  2. Quando o professor entra ou sai do dojô;
  3. No início e final de um combate;
  4. No início e final da aula;
  5. No início e final de um kata;
  6. No início e final de um exercício com um companheiro.
A maneira correta de se cumprimentar é, partindo-se da posição natural, curvar o corpo apenas em 30 cm e segurá-la por meio segundo e retornar a posição ereta. O zarei é realizado a partir da posição seiza, inclinando-se o corpo e as mãos descem suavemente das coxas para o chão, formando um triângulo onde a fronte tocará.
Kihon
Sendo um descendente do shorin-ryu, o estilo adoptou o sistema de kihon criado por Anko Itosu, pelo qual se ensinam as técnicas básicas, os fundamentos técnicos antes de treinar kata oukumite. Mestre Funakoshi dava ênfase no treinos com kata, mas reconhecia que o praticante devia executar antes os movimentos básicos, para facilitar o aprendizado profundo do caratê, compilados num chute, soco ou projeção.
Kata
Logo no início de suas atividades como instrutuor de caratê, quando procurava de vários modos divulgar sua arte marcial, o mestre Funakoshi manteve contacto com outros expertos, notadamente o mestre Kenwa Mabuni, por quem a série Heian (à época Pinan) foi introduzida na escola. No princípio, enonces, no estilo Shotokan ensinava-se um currículo de quinze katas: Heian shodan, Heian nidan, Heian sandan, Heian yondan, Heian godan, Tekki shodan, Tekii nidan, Tekki sandan, Bassai dai, Kanku dai, Enpi, Gankaku, Jitte, Jion, Hangetsu. Por fim, depois das medidas adoptadas por Yoshitaka Funakoshi, o qual criou a série Taikyoku (com três kata) o estilo passou contar trinta kata.
A entidade SKIF, do mestre Kanazawa, entre os períodos final do século XX e inicial do século XXI incorporou outros katas, a saber, NijuhachihoGankaku shoSeipai e Seienchin. Da mesma forma, o mestre Asai, sem romper com a herança do mestre Funakoshi nem chamar sua escola de estilo diverso, incorporou a prática de outos katas.
  1. Ten no kata
  2. Taikyoku shodan
  3. Taikyoku nidan
  4. Taikyoku sandan
  5. Heian shodan
  6. Heian nidan
  7. Heian sandan
  8. Heian yondan
  9. Heian godan
  10. Tekki shodan
  11. Tekki nidan
  12. Tekki sandan
  13. Bassai dai
  14. Jion
  15. Enpi
  16. Jitte
  17. Hangetsu
  18. Kanku dai
  19. Gankaku
  20. Nijushiho
  21. Jiin
  22. Bassai sho
  23. Kanku sho
  24. Chinte
  25. Wankan
  26. Sochin
  27. Meikyo
  28. Gojushiho sho
  29. Gojushiho dai
  30. Unsu
Os pontos importantes a se observar no trabalho do Kumite são: distância, velocidade, reação, antecipação, controle e correta aplicação de ataque e defesa. Os quais permitem desenvolver a tática e a estratégia.Graduação
As graduações acima são utilizadas no Brazil. Porém, em Portugal e em vários países da Europa, a graduação no Karate Shotokan é diferente, sendo esta a sua ordem: 9ºKyu - Branco 8ºKyu - Amarelo 7ºKyu - Laranja 6ºKyu - Verde 5ºKyu - Azul 4ºKyu - Vermelho 3ºKyu a 1ºKyu - Castanho 10ºDan a 1ºDan - Preto
Estas diferenças causam algumas duvidas entre atletas de diferentes paises. O motivo pelo qual em competições a nível internacional não há desentendimentos deve-se ao facto de apenas existir dois cintos em combate: o vermelho e o azul. Deste modo, nenhum dos combatentes sabe qual é a graduação do seu oponente, e vice-versa.
Além dos diferentes sistemas de graduação, existem ainda cintos de duas cores. Estes são atribuidos aos atletas que são considerados demasiado novos para obter a graduação seguinte por não possuirem ainda as capacidades fisicas de um corpo adulto. Estes cintos também podem ser atribuidos quando os examinadores não conseguem decidir se o examinando possui ou não as capacidades de progredir à proxima graduação.
Em algumas escolas de Shotokan no Japão, como o sistema de graduação foi adotado do Judo, é possivel de ver o mesmo sistema de graduação utilizado no Judo.
Competições
A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do caratê tradicional. As competições são um meio que permitem ao praticante fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como pessoa que ela proporciona. A prática nunca foi bem vista pelos mestres, chegando a ser peremptoriamente desetimulada por Mestre Funakoshi.
A despeito de severas reticências, a competição foi paulatimente se fixando na seara do caratê. Ainda assim, o cerne exigido dos lutadores é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!"
Numa competição de caratê tradicional não há divisão de pesos. O lutador cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho.
As modalidades de competição são:
  • Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias, dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central) lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras.
  • Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva aplicação (bunkai) em equipes de três pessoas: Após a apresentação do kata, a equipe deverá apresentar uma aplicação para as técnicas do kata escolhido. A decisão é sempre tomada por nota.
  • Kumite individual - Combate individual.
  • Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a equipe que obtiver o maior número do pontos ao final da última luta.
  • Enbu - Teatro marcial: Apresentação de aplicações de técnicas em duplas. A decisão é tomada por nota dos árbitros.
  • Fuku Go - Disputa individual que engloba kata e kumite, alternando a cada rodada: A ITKF instituiu o Kitei como kata oficial das competições de Fuku Go, para permitir as disputa direta (lado a lado) de competidores de estilos diferentes.